sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo !!!




TENHO CERTEZA E FÉ EM DEUS QUE 2012 SERÁ O MEU ANO!!
OBRIGADO MEU DEUS POR MAIS UM ANO DE VITORIA, DE PORTAS ABERTAS.
OBRIGADO POR TUDO.
LEMBRE-SE

DEUS É FIEL A TI.

GRANDE ABRAÇO E UM FELIZ ANO NOVO.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Meninos da Vila: como o Santos mantém tradição de formar craques


Sempre que um garoto bom de bola começa a despontar nas categorias de base do Santos, o chavão é repetido: "É mais um raio que cai sobre a Vila Belmiro". Desde Pelé, o Peixe tem se notabilizado por revelar atletas notáveis. Neymar e Paulo Henrique Ganso são os mais recentes exemplos. No entanto, dizer que o Peixe é um para-raios de craques dá a impressão de que eles surgem por acidente ou de que se trata de algo místico, sem explicação. Essa visão incomoda os profissionais que cuidam dos Meninos da Vila.

Eles garantem que o surgimento de tantos atletas de qualidade é fruto de muito trabalho e de uma estrutura eficiente, não apenas por mero acaso. O Peixe conta hoje com 280 garotos divididos em cinco categorias: sub-11 (pré-mirim), sub-13 (mirim), sub-15 (infantil), sub-17 (juvenil) e sub-20 (juniores). Além das comissões técnicas, o clube mantém, em tempo integral, uma assistente social, Silvana Trevisan, e uma psicóloga do esporte, Juliane Jellmayer Fechio. Há ainda um centro de treinamentos exclusivo para a base, o CT Meninos da Vila, que carece de melhorias, principalmente nos campos, que viraram terrões. A diretoria promete iniciar as reformas nas próximas semanas.

O processo começa com as avaliações. O Santos não tem uma rede de “olheiros” contratados, como o Internacional, por exemplo, cujos observadores viajam o Brasil inteiro em nome do Colorado para captar atletas. O Peixe tem, sim, muitos colaboradores: pessoas que descobrem talentos e os levam para a Vila Belmiro, mas que não têm vínculo com o clube. Em troca, essas pessoas podem se tornar procuradores dos meninos.
Num fim de semana, observamos entre 500 e 600 meninos. Já chegamos a fazer uma clínica com 1.100 garotos"
Bebeto Stival, supervisor da base santista

As indicações, no entanto, não são o forte do clube. A maioria dos meninos chega por meio de peneiras e clínicas. O primeiro método é tradicional: garotos são divididos em times, jogam por alguns minutos e tentam se destacar. O segundo método, que vem sendo utilizado com sucesso pelo Santos, revelando vários jogadores, é bem diferente e, segundo Bebeto Stival, supervisor técnico do Departamento de Futebol de base do Santos, bastante eficaz.

- Nas clínicas, utilizamos diversas atividades em espaços reduzidos e criamos exercícios específicos, como dividir os meninos em times de três ou quatro jogadores, para que eles possam sempre estar trocando passes e buscando o gol. Com esse tipo de atividade, os garotos têm bem mais contato com a bola do que numa peneira comum. Assim, podemos observar melhor os seguintes aspectos: característica técnica, leitura de jogo, dinâmica em campo - explica Stival.

As clínicas são realizadas aos fins de semana, em parceria com prefeituras. O Santos manda seus avaliadores, e as cidades cedem espaços para a realização dos testes, além de ficarem responsáveis pela divulgação. Como inscrição, os garotos precisam doar 1 kg de alimento não perecível, e o montante arrecadado é destinado a entidades assistenciais locais.

- Num fim de semana, observamos entre 500 e 600 meninos. Já chegamos a fazer uma clínica com 1.100 garotos. Dependendo do nível, conseguimos tirar de 10 a 20 jogadores, que são trazidos aqui para o CT Meninos da Vila. Eles passam uma semana treinando com nossas equipes. Desses, normalmente, aproveitamos apenas um ou dois. Muitas vezes, não fica nenhum. É o vestibular mais difícil do Brasil - comenta Bebeto.
O futebol é um teatro a céu aberto e o Santos escolhe muito bem os seus artistas"
Bebeto Stival, supervisor da base santista

O supervisor explica que a prioridade é deixar os garotos à vontade. A partir do sub-15 há uma exigência tática rígida, e somente do sub-17 para cima é que os meninos passam a ser mais cobrados. Já nas categorias menores, os meninos ficam à vontade. Treinos sempre com bola, sem muita exigência de exercícios físicos puxados. Atividades mais lúdicas.

- Se não fizemos isso, os meninos perdem o gosto. Nessa idade de 10, 11, 12 até 13 anos, eles têm de ver isso aqui como uma brincadeira. Por isso é que os jogadores formados pelo Santos têm gosto pela bola - explica, completando.

- O Santos é uma fábrica de craques por causa da filosofia. Aqui sempre se busca praticar o futebol arte, bonito, desde a base. É uma característica histórica. O futebol é um teatro a céu aberto, e o Santos escolhe muito bem os seus artistas.

Trilha do sucesso passa pela Vila

A fama de revelar craques faz com que o Santos seja procurado por atletas de clubes rivais. Muitos meninos buscam o Peixe, pois acreditam que, atuando no clube da Vila Belmiro, terão mais chances de brilhar.

É o caso do meia Bruno Lamas, camisa 10 da equipe juvenil. Nascido em 1994, na cidade de São José do Rio Preto, no interior paulista, ele começou no São Paulo, mas, em 2010, resolveu descer a Serra do Mar para jogar no Peixe, que já o observava.

- Eu e meu pai conversamos e optamos pelo Santos, pois o clube sempre dá muito espaço para os jogadores da base. Aqui, o garoto que se destaca tem mais chance de ser aproveitado no time de cima. Claro que isso pesou muito na minha escolha - afirma.

Bebeto Stival corrobora o que diz Bruno Lamas. Ele conta que são vários os casos de pais de garotos que jogam em outros clubes e que lhe telefonam pedindo chances para seus filhos no Santos.

- Isso acontece muito, pois eles sabem que o Santos cuida muito bem dos seus jogadores e, claro, abre muito espaço para que eles possam ser aproveitamos lá em cima.

Família santista

Como recebe atletas do Brasil inteiro, o Santos precisa hospedar os garotos. Até os 14 anos, os meninos, por lei, não podem ficar em alojamentos. Assim, o clube recorre às "mães cuidadoras". São famílias da Baixada Santista que têm algum tipo de vínculo com o clube (cujos filhos também jogam no Peixe, por exemplo) e que acabam "adotando" meninos que vêm de fora. O clube paga uma pequena ajuda de custo às famílias que recebem os jovens atletas.

O atacante Mikael, por exemplo, tem 11 anos e é do time pré-mirim. Um dos principais destaques da base santista, ele é de Fortaleza (CE). Foi trazido para um teste e encantou os treinadores. Como sua família é humilde e não poderia se mudar para a Baixada Santista, ele mora com uma das professoras de futsal feminino do Santos. Apesar das saudades da família, ele nem pensa em voltar.

- Quero ficar aqui no Santos. Gosto de morar aqui. Quero ser igual ao Neymar - diz.

Silvana Trevisan, assistente social do Santos, é a profissional encarregada de buscar lares para os Meninos da Vila.

- As mães biológicas, quando não podem se mudar para Santos com seus filhos, concedem a guarda provisória para as mães cuidadoras. Elas têm contato direto com o clube, e nós acompanhamos tudo, ajudamos quando é necessário. O interessante é que as duas famílias acabam criando um vínculo afetivo muito forte. As duas mães acabam se tornando amigas - explica.

Arrimos de família

Há, por outro lado, casos de pais que largam tudo para acompanhar os filhos. Isso pode se tornar um foco de preocupação para Silvana Trevisan e para a psicóloga do Peixe, Juliane Jellmayer Fechio. Existem vários casos de garotos, mesmo adolescentes, que acabam sustentando suas famílias.
Meninos recebem assistência também fora de
campo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Alguns mais talentosos já têm salário maior e podem garantir uma vida relativamente confortável para seus pais. É o caso do atacante Gabriel Barbosa, artilheiro do sub-15 do Peixe. Empresariado pelo mesmo agente de Neymar, Wagner Ribeiro, ele mora num apartamento em frente à Vila Belmiro, e seus pais vivem em sua função.

Com maior ou menor salário, porém, esse cenário está longe de ser o ideal, consideram as profissionais do Santos.

- Na maioria das vezes, o menino assina um contrato de formação que não é suficiente para cobrir todos os gastos da família. Santos é uma cidade muito cara. Por isso, sempre oriento os pais da mesma forma. Se eles quiserem se mudar com o filho, ótimo, mas que procurem atividades profissionais para que não sobre tudo para o jogador. Caso contrário, os papéis ficam invertidos. O pai passa a depender do filho e isso pesa muito no aspecto psicológico do menino - explica Silvana.

Normalmente, atestam as profissionais, o desempenho do jovem jogador nos treinos e jogos acaba caindo, pois ele não está preparado para assumir a responsabilidade de ser o provedor da família.

Outro aspecto que causa preocupação é a cobrança por resultados dentro de casa. Como o futebol hoje é um negócio de milhões, os pais projetam nos filhos a chance de rápida ascensão social. Resultado: há casos de garotos de apenas 11 anos que sofrem de estresse.

- Coloca-se muita expectativa sobre o menino. Eles são obrigados a apresentar um comportamento de adulto antes da puberdade. Isso causa muito estresse. Já identificamos casos assim aqui no Santos. Logo chamei os pais para explicarmos que as crianças precisam ser olhadas como crianças - afirma Juliane.

Exceções
É o pai quem tem de trabalhar para sustentar o filho e não o contrário"
Gilberto Ybom, pai de Lucas

Alguns pais levam em consideração as orientações de Silvana e Juliane e acabam se estabelecendo na cidade. O casal Gilberto e Leomar Ybom, pais do lateral juvenil Lucas Ybom, foram criativos.

Gilberto veio de Cascavel (PR) com o filho e passou a trabalhar em diversas atividades. Até que conseguiu alugar uma sobreloja em frente à Vila Belmiro. Ele transformou o local em pensão. Agora, ganha dinheiro hospedando e servindo alimentação a jogadores que passam alguns dias sendo avaliados pelo clube. Sua esposa complementa a renda gravando e editando jogos da base (fez até um curso de edição de vídeos) para vencer DVDs aos outros pais.

- Não teria o menor cabimento eu parar de trabalhar para depender só do Lucas. Até porque é apenas uma ajuda de custo que eles recebem. É o pai quem tem de trabalhar para sustentar o filho, não o contrário - afirma Gilberto.

Formando cidadãos

Enquanto os técnicos formam os atletas, Silvana Trevisan e Juliane Jellmayer Fechio cuidam da transformação dos meninos em cidadãos. A ideia é bem simples: é impossível que todos os 280 jogadores das categorias de base do Santos cheguem a ser atletas profissionais. A maioria terá de seguir outras carreiras.

Por isso, o clube mantém uma sala de aula, com internet e material didático, na Vila Belmiro para dar reforço escolar aos garotos. Duas professoras tiram dúvidas e ajudam os garotos em seus deveres de casa. Silvana comparece às reuniões escolares (nos casos dos jovens cujos pais não moram em Santos) e acompanha de perto o desempenho dos jogadores.

- Nosso maior objetivo é quebrar o paradigma de que jogador de futebol é burro. Por isso, damos muita ênfase à parte escolar. Cobramos frequência e aproveitamento. Estamos sempre junto deles, passando relatórios às escolas. Meu maior orgulho é ver os meninos passando no vestibular - conta.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011